As doenças do intestino delgado em felinos domésticos são comuns, podendo ocorrer em qualquer idade, apesar de serem mais frequentes em adultos e idosos. Como são alterações com sintomas geralmente inespecíficos, muitas vezes sutis e menos severos, podem passar despercebidos pelos clínicos, o que torna o diagnóstico mais complexo e o tratamento mais raro.
Classicamente se espera que animais com alterações de intestino delgado tenham diarreia como o principal sintoma, porém nos gatos, a diarreia é somente o terceiro sintoma mais comum nesses animais. O principal achado é perda de peso, seguido de êmese e depois diarreia (DENNIS et al., 1993; HART et al., 1994)
Perceber diferenças do intestino com palpação abdominal é complexo, na maioria das vezes são variações muito discretas na espessura (de poucos milímetros) e como os intestinos são órgãos musculares, essas variações podem ser por contrações ou turgidez durante a manipulação. O ultrassom de abdome é o melhor exame para avaliar essas alterações e é essencial para o diagnóstico.
O ultrassom é um exame simples e não invasivo, que permite avaliar a espessura dos intestinos, sua estrutura de camadas e a motilidade, além de avaliar os demais órgãos abdominais. Como as alterações intestinais são a principal causa de êmese em gatos, todos os animais que vomitam mais de 3 vezes por mês precisam realizar o exame.
Como as principais doenças de intestino delgado causam espessamento das camadas intestinais, a medida dessas espessuras em diferentes regiões é importante para o diagnóstico desses animais. Existem variações nos padrões de espessuras normais dos intestinos, na maioria das vezes considerando espessuras diferentes para os diferentes segmentos. Alguns autores descrevem espessuras de até 0,38 cm como normais (GASCHEN, 2011; NEWELL et al., 1999). Trabalhos mais recentes mostram que essas medidas não são normais, aceitando como normal até 0,25 cm de espessura; usando a espessura de 0,28 cm como limite de normalidade a especificidade do ultrassom é de 99% para alterações (NORSWORTHY et al., 2013).
As causas mais comuns desses espessamentos são células inflamatórias (doença inflamatória intestinal) ou células neoplásicas (como linfoma, carcinoma ou mastocitoma). Usando como limite a espessura de 0,28 cm, 49% dos animais tinham doença inflamatória intestinal e 50% tinham alguma neoplasia, somente 1% não tinham alteração com esse limite de espessura.
Apesar de o ultrassom ser essencial para determinar alterações no intestino delgado, ele não permite diferenciar a causa dessa alteração, uma vez que a imagem ultrassonográfica é idêntica para todas as alterações. Algumas lesões mais severas, como espessamentos importantes de diversos segmentos, aumento de linfonodos abdominais e perda de estratificação de camadas são mais sugestivas de neoplasias, mas não patognomônicas delas.
Para diferençar as causas é necessário realizar biópsia intestinal, para histopatologicamente diferenciar tumores de inflamações (mesmo assim, alguns tipos de linfoma são complexos de serem diferenciados de inflamações). É recomendado realizar a biópsia por laparotomia, pois é preciso realizar análise histopatológica de todas as camadas do intestino (endoscópio somente consegue biopsiar as camadas mais internas do intestino) e a maioria das alterações ocorre no jejuno, local onde o endoscópio não consegue atingir. Por isso as amostras obtidas por laparotomia são superiores as da endoscopia (EVANS et al., 2006).
Fonte: Pedro V. P. Horta em https://www.vetsmart.com.br/bulario/cg/estudo/13292/alteracoes-de-intestino-delgado-em-gatos
Alça intestinal irregular com espessamento da camada muscular. Exame realizado pela Dra. Vivian Rossi da equipe MobileVet.
Corte longitudinal e transversal de alça intestinal com perda do padrão de camadas. Exame realizado pela Dra. Vivian Rossi da equipe MobileVet.