Neste artigo vamos discorrer sobre as indicações da região cervical com ênfase na avaliação da glândula tireóide, já que se trata de um exame pouco solicitado, mas que traz
valiosas informações para o clínico.
A ultrassonografia da região cervical é um exame muito útil, pois possibilita a avaliação das
glândulas salivares, vasos, linfonodos, língua, laringe, traquéia, esôfago, tireóide e paratireóide.
A ultrassonografia é o exame de escolha para diagnóstico de tecidos moles tais como órgãos abdominais, torácicos, ligamentos, tendões, linfonodos, tireóide, além de outras estruturas. Tal fato se fundamenta em parte por ser um método dinâmico, rápido e que não oferece riscos à saúde do paciente, pois não necessita de radiação ionizante. Esse exame oferece uma riqueza de informações na avaliação de tecidos moles, e por isso, é a modalidade de imagem que mais se aplica para a avaliação da tireóide. Esse método de imagem apresenta vantagens como a avaliação da tireóide, principalmente na identificação de massas cervicais de localização, limites e origem desconhecidos e auxilia na escolha de tratamento e prognóstico de tal enfermidade (Wisner e Nyland, 1994).
Com o aumento da longevidade dos cães, notamos que as freqüências de certas doenças, têm sido intensificadas. Os cães estão vivendo mais, pela melhor qualidade de vida e, a exemplo do que ocorre nos humanos, as
doenças tireoidianas aparecem mais com o avanço da idade, dentre elas podemos destacar o
hipotireoidismo e as neoplasias. A avaliação ultrassonográfica da tireóide permite detectar lesões difusas ou focais do parênquima da glândula e diferenciar lesões císticas ou sólidas (Nyland e Matton, 2002). A ultrassonografia é útil para a determinação de contornos, tamanho e volume da glândula tireóide em humanos (BARRACLOUGH e BARRACLOUGH, 2000) e em cães (Nelson
et al., 2001).
Na medicina veterinária existem dificuldades em diagnosticar as anormalidades tireoidianas apenas por exames bioquímicos, seja por insuficiência de laboratórios especializados, testes com baixa especificidade, ou pelo alto custo dos exames. Portanto
a ultrassonografia se torna uma ferramenta extremamente valiosa para a avaliação tireoidiana, visto que se demonstra ser um exame promissor, e menos dispendioso que os métodos de diagnóstico tradicionais, além de conseguir diferenciar casos em que os testes convencionais tornam-se inconclusivos como na síndrome do eutireóideo enfermo (Müller, 2011).
Os
tumores da glândula tireóide em cães e gatos não são muito comuns, correspondem de 1,2 a 3,8% de todos os tumores. Em cães 80% desses tumores são malígnos, não funcionais, invasivos, grandes massas fixas, que podem levar a distorção anatômica significativa e obstrução das vias aéreas superiores. Já em gatos a prevalência é de tumores benignos, funcionais, pequenos e móveis. O tratamento de eleição é a excisão cirúrgica. Trata-se também com radioterapia, iodo radioativo e quimioterapia adjuvante após a ressecção cirúrgica. A escolha do tratamento dependerá do tipo de tumor, a relação dele com estruturas vizinhas e da condição clínica geral do paciente. O tempo médio de sobrevivência após excisão cirúrgica completa para tumores (carcinomas) não-invasivos é de aproximadamente 3 anos e para tumores invasivos, de 6-12 meses. Do exposto conclui-se que apesar de raras, as neoplasias da tireóide em cães são graves, localmente invasivas e de grande potencial metastáticos, levando a um prognóstico reservado. Em gatos, como em sua maioria os tumores são benignos (adenomas), o prognóstico é muito bom após o tratamento adequado (Martingo, 2013).
A ultrassonografia é útil para a avaliação de neoplasias tireoidianas, podendo caracterizar as massas pré cirurgicamente, avaliar quais lobos estão afetados, vascularização da massa e suas características. No caso dos carcinomas tendem a aparecer unilaterais, de crescimento rápido e invasivo. Pode ser detectada a invasão das artérias carótidas comuns, das veias jugulares e do esôfago (Nyland, Mattoon e Wisner, 2005). No exame ultrassonográfico são observados como massas grandes, heterogêneas, de ecogenicidade menor do que os tecidos adjacentes e com margens definidas ou não (Nyland e Matton, 2002). A imagem Doppler colorido auxilia no estudo padrão de distribuição vascular, no diagnóstico das doenças da tireóide e no seguimento pós-cirúrgico, na pesquisa de linfonodos e metástases (Carvalho, 2009). O exame ultrassonográfico é uma modalidade de diagnóstico de baixo custo na avaliação dos nódulos tireóideos e apresenta uma boa correlação com os aspectos macroscópicos do nódulo e da glândula da tireóide (De Marco e Larsson, 2006).
Além de neoplasias o exame ultrassonográfico pode ser útil para diagnóstico de
tireoidite. A tireoidite em cães é associada à produção de anticorpos contra os hormônios tireoidianos. A imagem ultrassonográfica mais característica é de aumento do volume do órgão, perda de definição de margens e diminuição da ecogenicidade (Nyland e Matton, 2002).
Além da avaliação das tireóides, a ultrassonografia da região cervical tem indicações como:
– Determinação da origem e extensão de massas palpáveis;
– Pesquisa de metástase para linfonodos;
– Pesquisa de invasão tumoral por tumores da região;
– Alterações nas glândulas salivares como: sialite, sialoadenite, obstruções, sialolitos.
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Referências
BARRACLOUGH, B.M.; BARRACLOUGH, B.H. Ultrasound of the thyroid and parathyroid glands. World J Surg. v. 24, p.158–165, 2000.
Carvalho CF. Ultrassonografia Doppler de tireóide. In: Carvalho CF. Ultrassonografia Doppler em pequenos animais. Roca, 2009, p 184- 189.
De Marco V., Larsson CE. Hipotiroidismo na espécie canina: avaliação da ultrassonografia cervical como metodologia diagnóstica. Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci. São Paulo, v43, n 6,p 747-56, 2006.
MARTINGO, C.C.C., Neoplasias de tireóides em cães e gatos: revisão de literatura. Monografia. Fundação Educacional Jayme de Altavila. 2013.
Müller, T. R. Avaliação ultrassonográfica da glândula tireóide em cães hígidos de diferentes faixas etárias. Tese de mestrado. 2011.
NELSON, R.; BRÖMEL, C.; SAMII, V.; POLLARD, R.; DAVIDSON, A.; KASS, P.; Ultrasonographic evaluation of the thyroid gland in golden retrievers. National Parent Club Canine Health Conference, 2001.
Nyland TG, Mattoon JS, Wisner ER.. Pescoço In: Nyland T. G, Mattoon J.S, Ultrassom Diagnóstico em pequenos animais. Roca, 2005, p 293-313.
WISNER, E.R.; NYLAND, T.G.; Ultrasonographic examination of cervical masses in the dog and cat. Vet Radiol Ultrasound. v. 35, p. 310–315, 1994.