O colapso traqueal é uma doença que faz parte do dia-a-dia da clínica veterinária, por isso vale relembrar a definição, fisiopatogenia e epidemiologia da doença, e mais do que isso vale entender como tornar o diagnóstico desta afecção mais preciso.
O colapso traqueal é uma doença progressiva degenerativa que ocorre pela diminuição da rigidez do músculo traqueal e degeneração dos anéis traqueais (1, 2, 3). As cartilagens tornam-se hipocelularizadas e sua matriz se degenera devido à diminuição das quantidades de glicoproteínas e glicosaminoglicanos. Como consequência ocorre a perda da manutenção da conformação normal do lúmen traqueal durante o ciclo respiratório, resultando em achatamento da traquéia (4, 5).
O colapso traqueal primário acomete principalmente a região cervical, pode ocorrer em animais mais jovens e pode ser hereditário. O colapso traqueal secundário acomete principalmente a região torácica da traquéia e brônquios principais. O colapso traqueal secundário ocorre em consequência de pressões anormais nas vias respiratórias geradas pela tosse crônica e pela resistência aérea elevada. A tosse crônica pode ser secundária à cardiopatia, broncopatia crônica e obesidade (6).
As raças de pequeno porte como poodle, yorkshire e maltês são mais acometidas (7).
Não há predileção por sexo (3, 6).
O colabamento é relatado em cães de todas as idades, com faixa etária média de 7 anos (3, 6).
A queixa principal do colapso traqueal é uma tosse não produtiva descrita como “grasnar de ganso”. A tosse piora com a excitação (5). Em casos graves pode ser observada dispnéia, cianose e síncope. A obesidade, insuficiência valvar mitral, hiperadrenocorticismo e broncopneumonia são fatores agravantes (3, 2).
O diagnóstico de colapso pode ser feito por exames radiográficos, fluoroscopia, traqueobroncoscopia e ultrassonografia (8, 5).
Radiografias torácicas são eficazes em detectar o colapso de vias aéreas em 59% (9) a 84% dos casos (10). Projeções radiográficas laterais durante as fases inspiratórias e expiratórias são indicadas para demonstrar o colapso traqueal do segmento cervical e torácico, respectivamente, além de permitir o diagnóstico de doenças cardíacas e pulmonares concomitantemente (7, 11, 12).
Infelizmente o diagnóstico de colapso traqueal pelo exame radiográfico pode sofrer a interferência de alterações no diâmetro traqueal em função da respiração, tosse em animais hígidos durante o exame, dificuldade em obter uma radiografia no momento exato da inspiração e expiração, posicionamento adequado e superposição de tecidos moles na região cervical (13). Essas dificuldades citadas acima são frequentes e tornam o diagnóstico radiográfico do colapso difícil.
Para aumentar a precisão radiográfica em diagnosticar o colapso cervical foi proposto um método auxiliar: compressão traqueal com pêra de borracha por Canola e Borges 2005. A técnica baseia-se no fato de que os animais com esta síndrome apresentam anéis cartilaginosos flácidos e não resistentes a qualquer tipo de pressão. Essa técnica elimina a necessidade de radiografias em diferentes momentos do ciclo respiratório, o que torna o exame mais rápido e confortável para o paciente. Além disso, sua aplicação permite sanar dúvidas deixadas pela sobreposição de tecidos moles no momento do exame.
Para pesquisar causas de dificuldade respiratória sugere-se radiografar a região torácica que dará informações sobre os campos pulmonares, silhueta cardíaca, mediastino, espaço pleural e margem diafragmática e costelas. No entanto se a radiografia simples não mostrar alteração no lúmen traqueal e a suspeita clínica for colapso é indicado a realização do exame radiográfico da região cervical com compressão traqueal.
O diagnóstico radiográfico com e sem compressão traqueal é um método barato, que não necessita de contenção química e com boa precisão para diagnóstico traqueal, mas se o diagnóstico de colapso com a radiografia não for possível, vale considerar as técnicas de ultrassonografia, fluoroscopia e traqueobroncoscopia que podem ser escolhidas de acordo com a disponibilidade do equipamento, custo, necessidade de contenção química/condição clínica do paciente e precisão.
Matéria escrita por:
Ms. Mv. Fernanda Helena Saraiva
Sócia e fundadora da MobileVet